Publicado em 28 set 2016 • por Thereza Christina Amendola da Motta •
Campo Grande (MS) – Em parceria com o Governo do Estado e com a Funcraf (Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Crânio-Faciais), o Hospital São Julião, em Campo Grande, realizou nessa terça-feira (27) a primeira cirurgia de enxerto ósseo em Mato Grosso do Sul em paciente com fissura lábio palatina, uma má-formação conhecida popularmente como lábio leporino ou fenda palatina.
O hospital pretende a partir de agora realizar todas as cirurgias por quais os pacientes com essas más-formações precisam ser submetidos, como fechamento do palato, do lábio, enxerto ósseo e cirurgia plástica. Hoje, até para simples avaliações médicas, os pacientes precisam se deslocar até o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (USP), em Bauru, conhecido por “Centrinho”, uma referência do tratamento no país.
Como explicou o diretor administrativo do São Julião, Hamilton Alvarenga, a dificuldade em encontrar equipe médica- que inclui um cirurgião buco maxilo- disposta a assumir as cirurgias, além de outros entraves, não permitia que o hospital pudesse iniciar as intervenções cirúrgicas na Capital. Ele lembra ainda que algumas cirurgias, como a plástica, em casos de lábio leporino, já foram realizadas em Campo Grande, no entanto, o procedimento de enxerto ósseo, assistido pelo SUS, nunca havia sido realizado e todos os casos até hoje tinham sido encaminhados para Bauru.

Diretor do São Julião acredita que até janeiro o hospital estará habilitado. Foto: Edemir Rodrigues.
“Nós temos interesse nesse projeto há algum tempo. O Governo do Estado vem acompanhando as negociações do hospital e dando todo apoio, assim como a Funcraf. Conseguimos uma equipe médica que se dispôs a fazer as cirurgias e nessa primeira experiência vamos avaliar os custos e todos os outros procedimentos envolvidos nesse modelo”, explicou Hamilton.
Ainda não foi definido como acontecerá a parceria entre Funcraf, São Julião e Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES), mas segundo Hamilton, ela deverá ser firmada inclusive com o município, caso haja interesse. Com o acordo firmado e o início das cirurgias na Capital, o Estado deverá reduzir os gastos com o Tratamento Fora de Domicílio (TFD), benefício concedido aos usuários do SUS que precisam se deslocar para fora da cidade.
Segundo Hamilton, o hospital precisa ainda ser habilitado para esse tipo de cirurgia. “Contando com toda a burocracia, até dezembro devemos resolver e a partir de janeiro estará tudo certo. Ou seja, pacientes que antes precisavam se deslocar até Bauru, agora poderão ser atendidos aqui, um conforto bem maior para todos”.
E essa comodidade em receber tratamento em Campo Grande irá aliviar as preocupações e o cansaço da aposentada rural Rafaela Paiva Caetano, 62 anos, acostumada a viajar com o neto de 9 anos até o Centrinho, em Bauru. “Até para fazer uma avaliação temos que ir para São Paulo. É sempre muito cansativo”, disse ela nessa terça-feira enquanto aguardava o neto que passava pela primeira cirurgia de enxerto ósseo do São Julião.
O menino, Rubens Paiva da Silva, nasceu com má-formação e sua primeira cirurgia foi aos 4 meses de idade. “Ele não conseguia mamar, chorava muito. Depois da cirurgia, melhorou essa parte da alimentação. A cirurgia de hoje é a segunda por qual ele passa”, lembra a avó Rafaela que mora com o neto em um assentamento na cidade de Anastácio. Apesar da alegria inocente de criança, a avó conta que Rubens se preocupa em ser “sem defeitos”. “Ele diz que quer ser bonitinho, sem defeito nenhum e ficar com a boca normal”.
Conforme a Funcraf, contabilizando somente pacientes de Mato Grosso do Sul, a fila para o procedimento de enxerto ósseo no Centrinho, em Bauru, chega a aproximadamente 80 pessoas; e a espera pode ultrapassar dois anos. “O Centrinho atende todo país. Então, além das pessoas do Estado, existem muitos outros aguardando”, disse a coordenadora administrativa da Funcraf, Carla Pacheco Normando.
Segundo ela, para cirurgias primárias como a de fechamento do lábio não existem filas. “Nesses casos o atendimento é feito logo. Já para o fechamento de palato ou plástica a fila de pacientes do Estado chega a aproximadamente 150 pessoas aguardando cirurgia no Centrinho”.
Lábio Leporino ou Fenda Palatina
A má-formação dos lábios ou do palato requer, na maioria dos casos, uma série de cirurgias e tratamentos e que começam ainda no início da vida. Conhecido como lábio leporino ou fenda palatina, a doença se caracteriza por uma fissura que pode se desenvolver no lábio e no palato (céu da boca) ao mesmo tempo ou apenas em um deles.

Tatiana explica que primeira cirurgia acontece a partir dos 3 meses de idade. Foto: Edemir Rodrigues.
A primeira cirurgia, para o fechamento do lábio, pode ser feita a partir dos três meses de idade, como explicou a ortodontista da Funcraf, Tatiana Nishioka. Já a segunda acontece a partir de um ano, quando há fissura de palato também. “Essa segunda cirurgia só acontece quando o palato tem fissura. A terceira intervenção deve acontecer entre 9 e 12 anos de idade e quando há necessidade de enxerto ósseo”, disse.
Para a fase da cirurgia plástica a avaliação é feita de acordo com cada caso, segundo Tatiana. “O Rubens, por exemplo, esta fazendo hoje (27) a retirada de um pedaço de osso para juntar a fissura que passa atrás da linha da gengiva. Uma cirurgia plastica no caso dele ainda vai depender de algumas coisas “, avaliou.
Funcraf
Os pacientes de Mato Grosso do Sul, atendidos pelo SUS, são encaminhados para a Funcraf, fundação que oferece equipe médica multidisciplinar para acompanhamento e tratamento da doença. “Lá eles recebem um planejamento individual, focado exclusivamente de forma individual”, explicou a coordenadora Carla.
Além de pediatras, neurologistas e nutricionistas, a Funcraf oferece uma equipe de enfermeiros, fonoaudiólogos, otorrinos, psicopedagogos, ortodontistas, odontopediatras, assistentes sociais e psicólogos.
Texto: Luciana Brazil / Foto: Edemir Rodrigues.