Publicado em 19 jun 2019 • por marianel@ses.ms •
O Laboratório Central de Saúde Pública/MS (Lacen/MS), órgão ligado à Secretaria de Estado de Saúde é um dos integrantes, com apoio técnico do Projeto Zibra, liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cujo objetivo é conhecer a origem de vírus responsáveis por doenças como dengue, chikingunya e zika, bem como a data provável de entrada deles no território nacional, rota e velocidade de expansão, além de calcular a possibilidade de novos surtos.
Essas informações, cujos dados foram divulgados recentemente em reunião no escritório da Opas, em Brasília, vão possibilitar a adoção de medidas de saúde pública em todo o país. Os dados foram divulgados recentemente em reunião no escritório da Opas, em Brasília.
Como resultado dos estudos e coletas feitos em Mato Grosso do Sul e outros estados, em apenas 15 dias, foram gerados 126 genomas completos, sendo 69 de dengue, 34 de chikungunya e 23 de zika, oriundos das amostras provenientes de pacientes infectados na região Centro-Oeste do país. A equipe coletou mais de 2.700 mosquitos de 19 espécies, em sua maioria, Aedes aegypti, Aedes albopictus e Culex quinquefasciatus, que estão sendo analisados.
Os especialistas, integrantes do projeto Zibra 2: mapeamento genético do zika e outros arbovírus no Brasil, estiveram em Mato Grosso do Sul entre os dias 16 a 21 de maio, sendo 16/05 em Coxim, 17 a 20/05 no Lacen em Campo Grande e no dia 21/05 em Chapadão do Sul. A equipe, que esteve a bordo de um ônibus batizado de motorhome, contou com o apoio do governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria Estadual de Saúde.
“Durante a passagem por Mato Grosso do Sul, fornecemos todo o apoio logístico para os trabalhos realizados por essa equipe liderada pela Fiocruz. É nossa meta conhecer e adotar tecnologias e ferramentas mais eficazes de combate às doenças causadas por arbovírus, como a dengue, dengue, zika, chikungunya, febre amarela, mayaro e outras”, salienta o secretário estadual de Saúde Geraldo Resende.
Tecnologia
O projeto Zibra conta com o financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) e da Secretaria de Vigilância e Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS), da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Munidos de uma tecnologia inovadora de sequenciamento genético que cabe na palma da mão, o grupo, composto por pesquisadores nacionais e internacionais, percorreu mais de 12 mil quilômetros entre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Em parceria com a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS/MS) e com os Laboratórios Centrais de Saúde Pública, os Lacens, dos quatro estados, a iniciativa teve acesso a cerca de 360 amostras. Os números finais com todos os detalhes gerados a partir dos sequenciamentos serão divulgados em breve em um artigo científico.
Com a decodificação dos genomas será possível responder perguntas relevantes para o Sistema Único de Saúde (SUS), bem como a reconstrução de árvores filogenéticas – tipo de análise que agrupa no mesmo ramo os vírus que compartilham um ancestral comum, contribuindo para explicar suas trajetórias e evolução.
Luiz Alcântara, pesquisador do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e líder da pesquisa, avalia que os benefícios do projeto terão impacto em estudos realizados no Brasil e no exterior. “Esse recorde está fornecendo à ciência uma rica matéria prima, que é o mapeamento, até o momento, desses três vírus. Nenhum projeto conseguiu gerar em quinze dias todos esses genomas”, frisou.
A partir da utilização da técnica conhecida como metagenômica, os especialistas também pretendem sequenciar amostras que foram negativas para os oito vírus priorizados na iniciativa.
Marta Giovanetti, pesquisadora visitante do mesmo laboratório e integrante da equipe, explica que já foram testadas 28 amostras por metagenômica. “Das cinco que apresentaram resultados positivos para chikungunya, quatro já tiveram seus genomas completos gerados”, conta.
O projeto teve a participação de 13 especialistas, incluindo pesquisadores do IOC/Fiocruz, Instituto Evandro Chagas (IEC), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Birmingham e Universidade de Oxford, ambas da Inglaterra, Universidade de KwaZulu-Natal, da África do Sul, Lacen de Minas Gerais, Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e Hemocentro de Ribeirão Preto. (Texto: Ricardo Minella/SES e Vinicius Ferreira/Fiocruz; Foto: Ricardo Minella)