Publicado em 22 dez 2025 • por Kamilla Nunes Ratier Camacho •
Inovação local e coordenação estadual ajudam a enfrentar desafios da vacinação contra a dengue em MS
Ônibus escolar parando em frente à unidade de saúde, sorteio de prêmios e até influenciadores digitais convocando adolescentes. Em Mato Grosso do Sul, o enfrentamento à dengue não ficou restrito aos protocolos formais: virou estratégia de mobilização social. Em um cenário de dificuldades logísticas, baixa adesão e restrições técnicas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, os municípios sul-mato-grossenses foram além do modelo tradicional e apostaram na criatividade para proteger adolescentes contra a doença.

Mato Grosso do Sul se destaca por ter garantido a todos os seus municípios o recebimento de doses da vacina contra a dengue, destinadas ao público-alvo formado por adolescentes de 10 a 14 anos. A priorização se deu pelo Ministério da Saúde visto o estado ser endêmico para doença, diferentemente do que ocorreu em grande parte do país, onde a distribuição dos imunizantes foi parcial, no estado o envio foi realizado de forma integral, assegurando que todas as cidades tivessem acesso à vacinação.
Apesar da ampla disponibilidade do imunizante, a cobertura vacinal ainda enfrenta entraves. Atualmente, nove municípios apresentam índice inferior a 50% na aplicação da primeira dose (D1): Nova Alvorada do Sul, Terenos, Maracaju, Dourados, Campo Grande, Laguna Carapã, Itaporã, Anaurilândia e Santa Rita do Pardo. Entre eles, Dourados registra apenas 33% de cobertura na D1. Em relação à segunda dose (D2), os percentuais seguem abaixo do esperado, apenas o município de Fátima do Sul atingiu a meta nas duas aplicações.
De acordo com o gerente de Imunização da SES, Frederico Moraes, a baixa adesão, especialmente à segunda dose, está diretamente relacionada à dificuldade de manter o engajamento de adolescentes e famílias ao longo do tempo. Ele explica que, diante desse cenário, os municípios precisaram adotar estratégias diferenciadas para ampliar o alcance da vacinação.
“Os municípios entenderam que não bastava abrir a sala de vacina e esperar o público chegar. Vimos ônibus escolar parando em frente às unidades, parcerias com o comércio local, uso de sorteios e até influenciadores digitais ajudando a mobilizar os adolescentes. Cada cidade buscou soluções compatíveis com sua estrutura, sempre com foco na busca ativa e na sensibilização das famílias”, afirmou.


Experiências bem-sucedidas demonstram que essas estratégias fazem diferença. Municípios que ofereceram transporte, estabeleceram parcerias locais e investiram em ações de mobilização conseguiram ampliar significativamente a cobertura.
No início do ano passado, por exemplo, mais de 20 municípios alcançaram a meta de cobertura da primeira dose, impulsionados por campanhas intensivas e pela indução financeira, cuja segunda parcela foi determinante para estimular as gestões locais a investirem em busca ativa e mobilização.
Atualmente, a vacina está disponível em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde) do estado e a Rede de Frio aguarda a liberação de cerca de 20 mil doses junto ao Ministério da Saúde para continuidade da vacinação.



Para 2026, a tendência é que o público-alvo permaneça o mesmo, restrito à faixa etária de 10 a 14 anos, sem previsão de ampliação de público ou mudança de estratégia por parte do governo federal.
Mesmo diante desses limites, Mato Grosso do Sul assumiu protagonismo. O estado não apenas levou a vacina a todos os municípios, como também passou a monitorar e divulgar dados municipais de cobertura, uma iniciativa própria que não ocorre em outros estados, onde os indicadores não estão disponíveis para acesso.
“Mato Grosso do Sul assumiu o protagonismo na vacinação contra a dengue ao estabelecer um acompanhamento permanente e detalhado da cobertura vacinal em cada município. Esse monitoramento permite identificar fragilidades, apoiar os gestores locais e ajustar estratégias de forma oportuna. Mais do que distribuir imunizantes, o Estado atua de maneira ativa na coordenação, no apoio técnico e na indução de políticas públicas que se traduzem em proteção efetiva para crianças e adolescentes”, destacou o coordenador de Imunização da SES em exercício, Alberth Rangel Alves de Brito.
Na prática, as experiências do estado mostram que vacinação não é apenas insumo: é estratégia, gestão e mobilização social. Onde houve criatividade, parceria e envolvimento comunitário, houve resultado. E é justamente esse conjunto de experiências que agora se consolida como referência e inspiração.
Enquanto o país ainda busca soluções para ampliar a cobertura vacinal contra a dengue, Mato Grosso do Sul mostra que inovar, comunicar e investir em políticas indutivas funciona.
Kamilla Ratier, Comunicação SES
Fotos: Divulgação SES