Publicado em 14 out 2016 • por Thereza Christina Amendola da Motta •
Campo Grande (MS)- Todos os anos, quase um milhão de pessoas (930 mil), cerca de 1% da população brasileira, contrai sífilis no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. O número é ainda mais alarmante quando o assunto são as gestantes. Estima-se que 50 mil grávidas, 1,6% das mulheres à espera de um filho no país, sejam portadoras da infecção. Em Mato Grosso do Sul, nos últimos dez anos (entre 2007 e 2016) foram notificados quase seis mil casos de sífilis em gestantes, quase sete mil casos de sífilis adquirida, e pouco mais de duas mil ocorrências de sífilis congênita, quando o bebê é contaminado pela placenta ou na hora do parto.
No Estado, a quantidade de grávidas com sífilis aumentou em 2015 (1.102 casos), se compararmos aos dados de 2014 (901). Esse aumento é visível também nos casos de sífilis adquirida e congênita. Conforme a gerente técnica do Programa Estadual de DST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Danielle Martins Tebet, esse crescimento do número de casos, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), é reflexo da ampliação dos diagnósticos por meio dos testes rápidos realizados em unidades básicas de saúde.
Conforme o calendário do Ministério da Saúde, todo terceiro sábado do mês de outubro é comemorado o Dia Nacional de Combate à Sífilis. A doença, silenciosa e grave, é transmitida pela bactéria Treponema pallidum. São grandes as chances de cura quando há trato adequado. Apesar de a transmissão sexual ser a forma predominante de contágio, a doença infectocontagiosa ainda pode ser contraída pelo sangue ou verticalmente, passando da mãe para o filho.
Apesar de o tratamento ser simples, cerca de 70% das gestantes transmitem a doença aos bebês, pois não fazem o tratamento adequado. A sífilis na gestação pode causar graves problemas de saúde na criança ou ainda levar ao aborto.
Em gestantes ou não, mas com correto tratamento, a doença pode ser curada em 1 ou 2 semanas de tratamento, mas quando isso não acontece a sífilis pode permanecer no organismo durante toda vida, evoluindo até a morte. Conforme os médicos, a maior causa de abandono do tratamento é achar que a doença já foi vencida, já que os sintomas não ficam aparentes.
Nas pessoas contaminadas, a sífilis se desenvolve em diferentes estágios e os sintomas mudam de acordo com a evolução da doença. No entanto, médicos lembram que as fases podem se sobrepor umas às outras e os sintomas podem seguir ou não uma ordem. Mas a sífilis costuma seguir as seguintes fases: primária, secundária, latente e terciária.
Na primeira fase, nas primeiras semanas após o contágio, feridas indolores se formam no local da infecção, mas muitas vezes o indivíduo desconhece a contaminação, já que, além de não ter sintomas, as feridas podem se formam no reto ou no colo do útero. Essas feridas desaparecem entre quatro a seis semanas, mesmo sem tratamento e a bactéria se torna inativa (dormente) no organismo.
Quando visíveis, as feridas surgem nos órgãos genitais (pênis, vulva, vagina, ânus), inicialmente como uma úlcera não dolorosa, chamada de cancro duro. Se a transmissão se der por sexo oral, as feridas podem aparecer na boca ou faringe, podendo ainda surgir em outros locais da pele.
Entre duas ou oito semanas após as primeiras feridas, acontece a sífilis secundária. Pelo menos 33% das pessoas que não trataram a sífilis primária irão desenvolver o segundo estágio da doença, onde os sintomas são dor de garganta, dificuldade para engolir, dores musculares, febre e manchas na pele, principalmente na palma das mãos e sola dos pés. Nesse período, por causa dos sintomas evidentes, muitos descobrem a doença.
Também sem tratamento, essas manifestações costumam desaparecer e mais uma vez a bactéria fica inativa no indivíduo, período que corresponde ao estágio latente, quando não há sintomas.
Essa fase pode durar anos, sem que o indivíduo sinta nada, podendo até a doença nunca mais se manifestar. No entanto, a sífilis pode evoluir para o estágio terciário, o mais grave de todos. Nessa fase a infecção se espalha por todo o corpo, como cérebro, sistema nervoso, pele, osso, fígado, articulações e até para o coração. Segundo o Ministério da Saúde, entre 15 e 30% das pessoas infectadas que não fazem tratamento adequado desenvolvem o estágio terciário da doença.
Não há cura espontânea da doença e o desaparecimento das feridas ou manchas na pele não indicam a cura da sífilis. O que acontece é que a bactéria agora está se espalhando pelo corpo de forma silenciosa. Além de se prevenir, procure
Ações
Por meio do Pacto pela Saúde, com ações no setor de atenção básica e na vigilância em saúde da SES, o Governo do Estado tem trabalhado na prevenção à sífilis com a implementação da triagem na gestação, a utilização dos testes rápidos para sífilis durante o pré-natal, a capilarização para toda a população e a criação de comitês de investigação de transmissão vertical da sífilis.
O Programa Estadual de DST/ AIDS e Hepatites Virais ressalta a importância da realização do teste para diagnosticar a sífilis, principalmente em mulheres grávidas no primeiro e no último trimestre da gestação, e no parto.
Entre ações da SES no combate à doença no mês de outubro está a distribuição de material educativo para a população em geral e específico para a sífilis gestacional; ciclo de palestras em escolas particulares e estaduais para adolescentes do 8º ao 1º ano e em empresas da iniciativa privada com foco na prevenção, diagnóstico e tratamento da sífilis; distribuição de preservativos e testes rápidos para os 78 municípios.
Texto: Luciana Brazil. Foto: Agência Brasil.