Publicado em 12 set 2017 • por Thereza Christina Amendola da Motta •
Metas abusivas, carga de trabalho excessiva, problemas de relacionamento com colegas ou chefia são alguns dos problemas clássicos relatados nos mais diversos ambientes de trabalho. Situações assim desencadeiam doenças, como estresse ocupacional, depressão, transtorno de ansiedade e até dependência química, e precisam ser levadas a sério, conforme afirmou a psicóloga Fátima Cristina Macedo, membro e fundadora do SAMPO (Saúde Mental e Psiquiatria do Trabalho) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que no Brasil 23 milhões de pessoas sejam afetadas por transtornos mentais ou comportamentais e, segundo a psicóloga Fátima, o trabalho exerce um papel determinante na vida e na saúde, em especial mental, do indivíduo.
Durante o Seminário de Saúde Mental no Trabalho, realizado na manhã desta terça-feira (12), no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, Fátima afirmou que é necessária a criação de normas que regularizem as questões do ambiente de trabalho para que empresas possam se posicionar de forma adequada.
“Já passou da hora de olharmos para o tema, de pensar novas formas de atuação e cobrar políticas públicas com relação a isso. Deverão vir normas que regularizem essa questão do ambiente de trabalho para que as empresas possam agir. Um seminário como esse é a proposta de chegar antes, é a possibilidade de chegar antes, antes que as normas sejam impostas, antes que se tenha um prejuízo financeiro maior, antes que seja necessário apelar para o judiciário”, explicou.
Ambientes físicos onde trabalhadores não possuem mobiliários adequados, executam suas tarefas em ambientes apertados ou abafados também são consideradas situações de negligência.
“As reclamações não podem ser vistas como ‘mimimi’. A percepção do trabalhador precisa ser respeitada. Ela é real. É preciso exigir um ambiente de trabalho saudável que o trabalhador tenha as mínimas condições de desenvolver sua atividade. É uma relação de troca. Se a força de trabalho está ali, oferecendo seu melhor, esse local de trabalho também tem que dar condições para que ele trabalhe da melhor maneira”, disse a psicóloga Fátima que palestrou com o tema “Saúde Mental do Trabalhador: de quem é a responsabilidade?”.
É preciso se unir em torno da causa e saber que, independente do local de atuação em uma empresa, todos somos trabalhadores. ” Tem uma coisa muito importante, todos nós somos trabalhadores. Se essas pessoas que estão em determinadas áreas não olharem para a saúde mental do trabalhador, ela não está olhando para a própria saúde mental no ambiente de trabalho”.
“É preciso chamar todos para a responsabilidade, e isso é poder pensar em novas formas de atuação, em novas formas de cuidado. Inclusive, se eu me vejo também como trabalhadora, eu também preciso pensar como anda a minha saúde mental, independente de onde está o estressor”, afirmou.
Apesar de gerar consequências graves, como depressão, os transtornos mentais relacionados ao trabalho ainda não recebem a devida atenção. Em Mato Grosso do Sul, de 2006, quando tiveram início as notificações de transtornos no Sinam (Sistema de Informação de Agravo de Notificação), até 2017, foram notificados apenas 176 casos de trabalhadores com transtornos mentais causados por estresse no trabalho.
Setembro Amarelo
Realizado pela Superintendência Geral de Vigilância em Saúde, por meio do Centro de Referência e Saúde do Trabalho, o seminário acontece no mês de prevenção do suicídio, Setembro Amarelo.
“É um mês importante para trabalharmos esse tema. Fizemos esse seminário justamente para provocar nas pessoas a ideia da importância da notificação do suicídio. Tudo culmina para o mesmo tema, que é trabalhar a notificação e trabalhar a saúde mental”, afirmou a superintendente Geral de Vigilância em Saúde da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Angela Cristina Castro Lopes.
Segundo Angela, encontros que debatam temas importantes, como saúde mental, significam fazer gestão com saúde, gestão com qualidade. “É um tema importante, fazer gestão com saúde, gestão com qualidade, e uma gestão que cuide do servidor, cuide das pessoas para que a gente possa ter intervenções positivas que possam melhorar a saúde do trabalhador”.
O Seminário, que vai até quinta-feira (14), conta com a parceria entre a Secretaria de Estado de Saúde, Secretaria de Estado de Educação (SED) e Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP). Entre as palestras estão temas como: Depressão e Trabalho, Políticas sobre drogas, Distúrbios do sono e Acidentes de Trabalho, Sindrome de Burnout e outros.
Luciana Brazil- assessoria da SES (Secretaria de Estado de Saúde).