339 pessoas estão à espera de um transplante e mais 100 foram transplantados no Estado em 2020
Campo Grande (MS) – Perto de completar 200 dias em que vivemos uma das maiores crises epidemiológicas da humanidade, a Covid-19, 339 pessoas se mantêm firmes, na esperança de conquistarem um transplante de órgão em Mato Grosso do Sul. Além delas, 100 pessoas foram transplantadas no Estado desde o início do ano. O Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e da Casa Militar se esforça para realizar missões humanitárias para captação de órgãos ou transporte de pacientes selecionados em outros estados.
Mesmo com as incertezas causadas pela pandemia, o Estado conseguiu manter a mesma média de transplantes, em torno de 100 casos, realizando transplantes de órgãos em três cidades sul-mato-grossenses: Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Somente neste ano, de janeiro a agosto, foram realizados 17 transplantes de rins, 80 de córneas e três de coração no Estado.
Secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, afirma que tem oferecido todo o apoio para o desenvolvimento de políticas para captação de órgãos e de transplantes. “Queremos aprimorar ainda mais este sistema e oferecer maior qualidade de vida a estes pacientes, que por muitas vezes, acabam aguardando por muito tempo um transplante. Nós queremos melhorar todos esses instrumentos oferecidos pela Secretaria”, pontua.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES), por meio da Central Estadual de Transplantes, conta com apoio da rede pública e privada para fazer os transplantes em Mato Grosso do Sul. Os hospitais de Campo Grande por exemplo, são responsáveis por diversos transplantes de órgãos. A Santa Casa realiza o transplante de coração, rim e córnea; o da Unimed, o transplante de rins, tecido músculo esquelético (osso); o da Cassems procede o transplante de coração; São Julião, de córneas, sendo o maior nesta especialidade no Sistema Único de Saúde (SUS). As clínicas particulares da Capital e os municípios de Três Lagoas e Dourados também realizam transplantes de córneas.
A coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Claire Miozzo, explica que a Covid-19 não afetou os transplantes. “Nós mantemos a média e seguimos todas as recomendações e protocolos do Ministério da Saúde, que prevê desde a realização de testes em pacientes e equipe dos transplantes. No caso da captação de órgãos, por exemplo, toda a equipe precisa ter em mãos o resultado do exame, sem ele, não é feita a retirada do órgão”.
Ajuda humanitária
Em convênio firmado entre a SES e a Casa Militar com repasse de recursos, o ‘Voo pela Vida’, ajuda os pacientes que precisam se deslocar de forma imediata para fazer o procedimento em outros estados ou no transporte de equipes para a captação de órgãos. Para isso, recebem apoio das aeronaves da Casa Militar ou até mesmo do Corpo de Bombeiros Militar.
No caso do paciente, ao ser contatado para um possível recebimento de órgãos em outro estado, uma megaoperação é montada. Inicialmente, é verificada a possibilidade de encaixe da pessoa em um voo comercial ou até mesmo via terrestre por meio de ônibus, cuja passagem é custeada pelo Estado. Na indisponibilidade de voos, ou devido à urgência, a Casa Militar pode ser acionada. Em cada missão viajam cinco pessoas, sendo três tripulantes, um médico e um enfermeiro.
Para o Coronel QOPM Nelson Antônio da Silva, chefe da Casa Militar do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, o apoio a esses pacientes ou no transporte de órgãos é muito gratificante. “Sempre quando não há possibilidade de o paciente ser transportado por linha aérea regular e a Casa Militar é acionada, nós colaboramos de forma humanitária com esse transporte. Inúmeros voos foram realizados neste ano e o Governo do Estado sempre prioriza tanto essa missão de transporte de pessoas quanto o de órgãos”.
Antes do embarque, o paciente precisa ter em mãos, o resultado do teste do Covid e as equipes seguem protocolos de segurança como o uso de Equipamento de Proteção Individual. O primeiro registro do Voo pela Vida aconteceu no dia 9 de dezembro de 2018, quando a equipe realizou um transporte de órgãos colhido na cidade de Dourados. Desde então, o sistema não parou. Em 2019, foram realizados 17 voos, sendo dois de transportes de pacientes com destinos a Sorocaba (SP) e Rio Branco (AC) e mais 15 transportes de órgãos: rim, córneas, fígado. Em 2020, até o momento foram registrados 15 Voos pela Vida, sendo quatro com órgãos, 10 com pacientes e um trazendo equipe médica de São Paulo para Capital.
A cada viagem em que os pacientes precisaram ir para outros estados com possibilidade de fazer um transplante, o Governo do Estado, por meio da Casa Militar, empenha R$ 15 mil em um voo de 4 horas, ida e volta, tanto a São Paulo quanto a Curitiba. E ainda assim, Claire afirma que nem todas as pessoas selecionadas têm a garantia que serão transplantadas. Alguns critérios são levados em consideração como: a fila, a urgência e a compatibilidade. “São convocadas 10 pessoas que ficam aguardando no Hospital. Exames são feitos para saber se há compatibilidade e se não terão reação imunológica ao órgão. Se houver compatibilidade, aquele paciente que estiver com mais condições recebe a doação”.
Quando se trata de transplante, as ações têm que acontecer de forma rápida. O transplante de um coração tem que acontecer em até quatro horas. De fígado, em 12 horas. De pulmão tem que ser realizado dentro de quatro horas e o de rim em até 24 horas. No caso das córneas podem ser transplantadas em até 14 dias.
Setembro Verde
No mês de conscientização de doações de órgãos e tecidos, Setembro Verde (27 de setembro), 339 pacientes estão à espera de um transplante. Deste total, três aguardam por um coração, 177 por córnea e 159 precisam de rim. O número de doadores diminuiu significativamente, em uma comparação entre 2019 e 2020.
De janeiro a agosto, doadores de órgãos foram 34 em 2019 e 29 em 2020. Na captação de órgãos também houve redução, sendo 86 no ano passado e 75 em 2020. Doadores de córneas também diminuíram de 129 no mesmo período do ano passado para 96 neste ano.
Claire lembra que é necessário quebrar o ‘tabu’ e ter uma conversa franca e aberta com a família sobre o assunto. “Nós fazemos um trabalho de acolhimento nos hospitais para levar mais informação e conscientização às famílias”.
“Mas quando há uma perda, nós entramos em contato com os familiares, quando os questionamos sobre a doação, a resposta que recebemos é ‘não’. E ao indagar, a pessoa revela que ‘não sabe se seria uma vontade da pessoa que partiu’. Então, as pessoas precisam ter uma conversa aberta com os familiares, porque no final, quem vai decidir é a família”, explica Claire.
Texto: Rodson Lima, SES
Fotos: Edemir Rodrigues e Chico Ribeiro